ARTIGO DO NARCISO
Operação Lava Jato
Se a Operação Lava Jato não desaguar numa radical reforma político-partidária novos escândalos ocorrerão.
Nós brasileiros, vez por outra, comparamos a Operação Lava Jato com a Operação Mãos Limpas. Do ponto de vista jurídico, seus começos se parecem, entretanto, se ao fim e ao cabo da Operação Lava Jato nossa estrutura partidária se mantiver, o petrolão não tardará a ser esquecido, e pela mais elementar das razões: outros escândalos, ainda mais cabeludos, surgirão e passarão a ocupar as manchetes político-policiais de nossa grande imprensa. Lembram-se o que se dizia quando explodiu o escândalo da emenda da reeleição? O dos Anões do Orçamento? E o mensalão?
Na Itália, por exemplo, o êxito da Operação Mãos Limpas foi de tal ordem que levou ao fim da chamada Primeira República Italiana, e ao desaparecimento de diversos partidos políticos, e os poucos que conseguiram escapar, viram-se obrigados a trocar suas denominações, exceto, o Partido Republicano. Os quatro partidos que apoiavam o governo simplesmente desapareceram. Lá, sob a batuta do juiz Giovanni Falcone, a Operação Mãos Limpa fez o que devia fazer, mas, por mais que houvesse feito, se as causas que permitiram que a Itália houvesse se transformado no país dos mafiosos não houvessem sido erradicadas, com certeza, suas máfias ressurgiriam. Em tempo: na Operação Mãos Limpas 438 parlamentares, entre os quais, quatro ex-primeiros-ministros foram investigados e vários deles levados a prisões. Muitos se suicidaram.
Que o juiz Sérgio Moro tenha a mesma sorte que teve o seu colega italiano Giovanni Falcone, mas para tanto, nosso Congresso Nacional terá que fazer a parte restante, afinal de contas, caso seja mantida a nossa anárquica e corrupta estrutura político-partidária, jamais a nossa Operação Lava Jato produzirá os mesmos feitos que a Operação Mãos Limpas conseguiu produzir. Na Itália o saneamento político e moral de sua classe política impediram que a corrupção continuasse instalada no âmbito de sua própria estrutura partidária, sobretudo, com a participação direta e maciça de seus representantes políticos.
O nosso caso guarda a mais perfeita semelhança com o que existia na Itália, diria até, jamais tivemos uma estrutura partidária que pudesse ser levada a sério, e a provar que sim, em nosso país, partidos políticos são criados e retirados mortos, dependendo apenas de interesses circunstanciais, e quando muito, na tentativa de ludibriar a própria opinião pública, apenas trocam de siglas sem fazer nenhuma mudança nos seus conceitos, e menos ainda, no comportamento de seus integrantes. O PP de hoje já se chamou de PDS, o Democratas de PFL, o PR de PL, entre outros. Das duas, uma: ou moralizamos a nossa estrutura partidária ou nossos partidos políticos continuarão desmoralizados. Enfim, filho de peixe, peixinho é.