O preço da liberdade é a eterna vigilância.
Não existe direito absoluto, nem mesmo quando nos reportamos ao mais emblemático de todos eles, no caso, o direito a liberdade. Apenas os libertinos se acham no direito de usá-la e abusá-la, e não raramente, agredindo a liberdade dos outros.
Para detê-los fizeram-se necessário o estabelecimento das leis, justamente os dispositivos que põem freios naqueles que imaginam que suas liberdades são ilimitadas. A esses deixo aqui, como lembrete, a mais celebre expressão do Barão de Montesquieu: “Liberdade é o direito de fazer tudo àquilo que a lei permite”. Sendo mais objetivo: desobedecer às leis em proveito próprio e em detrimento dos direitos dos outros se constitui num crime.
Sabedora dos crimes que havia cometido em nome de sua abusiva liberdade, quando a caminho do cadafalso no qual seria guilhotinada, e em passando à frente da estátua da liberdade, Madame Roland, uma das mais expressivas figuras da importantíssima revolução francesa, assim se pronunciou: “Ó liberdade, quantos crimes cometem-se em seu nome”.
Difamar, caluniar e injuriar é crime? A nossa própria constituição diz que sim, e em assim sendo, quem assim procede, no caso, os libertinos, precisam pagar pelos crimes que cometem, porque são eles os principais responsáveis pelos assassinatos das reputações pessoas dignas, honradas e inocentes. Pior: quando ainda buscam se esconder no anonimato.
A leniência com a liberdade de expressão foi o que possibilitou a produção em escala industrial do que hoje denominamos de fake News. Isto tornou o nosso ambiente político, no Brasil e mundo afora, numa das mais graves ameaças as nossas democracias.
As nossas últimas eleições se deram como se os candidatos estivessem a disputar o primeiro lugar na produção das mais emocionantes fake News. Saudades dos tempos em que as mentiras corriam a base do boca a boca e não via internet, mais ainda, tendo as suas disposições as chamadas redes sociais.
Humberto Eco, na sua última aula inaugural da Universidade Turim, chegou a prever o que ora assistimos, ou seja, que as redes sociais iriam ser tomadas de assalto por bandos de imbecis que iriam se encarregar de imbecilizar nossas populações. Oportuna profecia!
Concluo reafirmando minha total aversão a censura, contudo os males que as fake News já provocaram a nossa opinião pública e no que concerne a nossa atividade política caminham para equiparar-se aos males que a indesejável censura seria capaz de provocar.