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Gratidão

                                                          A gratidão é não só a maior das virtudes, mas a origem de todas as outras.  

             A frase acima é de autoria de um dos mais importantes filósofos, escritores e advogados do império romano, no caso, o celebrado Cícero, cujo poder de síntese continua, enquanto orador, à desafiar os tempos. Também é dele a seguinte expressão: “Não basta apenas adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la”.

            Para entender os votos dos ministros do STF, Kássio Nunes Marques e André Mendonça, quando instados a julgar às acusações que pesam contra os primeiros 100 vândalos que no dia 8 de janeiro, próximo passado, invadiram e depredaram as sedes dos nossos três poderes, confesso que tive sérias dificuldades, porém acabei me convencendo que ambos poderiam agir como agiram, afinal de contas, a gratidão que deviam ao ex-presidente Jair Bolsonaro era de tal ordem que para recompensá-la não haveria limites.  

            Mas se levarmos em considerarmos as elevadas funções que exercem, no caso, a de juízes da nossa instância máxima de justiça, a gratidão jamais poderia ter sido usada como moeda de troca. Pelo sim, pelo não, vamos dar tempo ao tempo na esperança que qualquer julgador que se encontre em débito com um acusado, de pronto, se declare impedido.

            Sei da sofreguidão que os referidos ministros passaram, afinal de contas, em contrariando os oito votos dos seus pares, suas decisões haveriam de lhes trazer sérios dissabores, e mais ainda, sem a menor possibilidade de reverter os resultados do julgamento em questão.

           O dia 8 de janeiro deste ano, para quem queira e/ou para quem não queira, ficará registrado na nossa história como o dia da infâmia, ou seja, o dia em que a nossa democracia esteve gravemente ameaçada e, portanto, que tudo precisará ser feito para que nunca mais algo nem parecido venha acontecer.

            Voltemos no tempo e vamos chegar até o imortal Plantão. Vejamos o que ele dizia sobre os juízes: “O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis”.

           Se, por vezes, o juiz deixar vergar a vara da justiça, que não seja sob o peso das ofertas, mas sob o da misericórdia, assim se pronunciou outro imortal, Miguel de Cervantes.

           Voltando aos ministros Kássio Nunes Marques e André Mendonça: continuarei a tê-los na melhor das minhas contas, conquanto que, passem a sentirem-se quitados com todos àqueles que lhes foram gratos, pois só assim estarão em condições de fazer a justiça que tanto pretendemos e que tanto nos tem faltado. 

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