Numa democracia quando suas eleições ao invés de remédio vira veneno, com certeza, ela vai mal.
Nas mais exemplares democracias do mundo, em nenhuma delas a chefia dos seus governos resultam de eleições diretas, e sim, de seus respectivos colégios eleitorais, estes sim, eleitos diretamente. Esta é a essência do regime parlamentarista, justamente o regime que predomina na Europa, politicamente, o continente mais avançado e estável do planeta. Em tempo: nos EUA, o único regime presidencialista que podemos levar à sério, o seu presidente é eleito por uma assembléia constituída por apenas 538 delegados, assim constituída: seus 100 senadores, seus 435 deputados federais e três delegados do distrito de Colúmbia onde fica a sua capital, Washington. Portanto, através de uma eleição indireta.
Nós brasileiros, ainda resistimos a delegar a um colégio eleitoral a escolha dos nossos governantes, e em particular, dos nossos presidentes, justamente, por nos fazer lembrar o modelo vigente à época da ditadura militar, através do qual nossos presidentes/generais eram ungidos ao poder através de um colégio eleitoral sem legitimidade. Infelizmente, esta equivocada sensação tem determinado a manutenção do nosso regime presidencialista, e pior ainda, na sua forma mais degenerada, até porque, no nosso caso, para compor sua indispensável maioria parlamentar, o governo só a conseguirá fazendo negociatas com parlamentares derivados de 28 partidos políticos distintos, ou mais precisamente, esquartejando o poder e entregando seus pedaços para serem geridos por seus ocasionais aliados. Caso contrário, acontece o que aconteceu com os presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff. Verdade seja dita: nem o presidente Collor renunciou o seu mandato, na tentativa de evitar o se impeachment, tendo como objeto uma Fiat-Elba, e nem a presidente Dilma Rousseff foi condenada por causa das tais pedaladas fiscais, e sim, porque sofreram o que se convencionar chamar de uma quartela parlamentar.
À propósito, na tentativa de alcançá-la, o presidente Michel Temer já teve que esquartejar o seu governo, e mesmo assim, sequer conseguiu assegurar a maioria parlamentar que irá precisar para aprovar as reformas constitucionais que o seu governo terá que fazer, entre elas, a da previdência social, a trabalhista e a política, sobretudo esta última, até porque, enquanto for mantida a estrutura partidária que está aí, nenhum governante comporá uma base parlamentar minimamente confiável.
Além do esquartejamento do seu governo, o presidente Michel Temer ainda terá que conviver com aliados incômodos, ou seja, com prazo de validade, até porque, se sua gestão fracassar, por exemplo, os tucanos cairão fora, e se exitosa, a ponto de motivá-lo a concorrer a sua reeleição, igualmente.
Chegar ao poder, a qualquer custo, lamentavelmente, acabou transformando a nossa atividade política nisto que está aí, e pior será, enquanto nos governantes continuarem dependentes de maiorias parlamentares só alcançáveis, à base de negociatas.
No regime parlamentarista, governantes incompetentes e/ou desonestos são substituídos a qualquer tempo, até porque, neles, não lhes é conferido um mandato, já nos regimes presidencialistas, por deterem mandatos, com prazo fixo e determinado, para retirá-los do poder, somente pela via do impeachment, um processo traumático e demorado, a exemplo do que aconteceu quando do “bota fora” dos presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff.