O regime presidencialista e a nossa legislação política tornaram o nosso país ingovernável.
Reeleita para exercer um mandato que teve início no dia 1º de janeiro de 2015 e que deveria se estender até o dia 1º de janeiro de 2019, a presidente Dilma Rousseff não conseguiu exercê-lo como previa-se, por um só dia, embora tenha conseguido se manter no poder, aos trancos e barracos, até o dia até o dia 12 de maio de 2016, justamente o dia em que fora afastada provisoriamente para responder a um processo de impeachment que resultou no seu afastamento, desta feita, em caráter definitivo.
Os crimes que pesavam contra a então presidente Dilma Rousseff, notabilizaram-se pelo sugestivo e jocoso apelido de “pedaladas fiscais”, até porque, se tais crimes fossem o bastante para determinar o seu impeachment, nenhum dos nossos presidentes, nenhum dos nossos governadores e nenhum dos nossos prefeitos, tanto no passado quanto no presente, teriam concluído ou concluiriam os seus mandatos, até porque, manipular com seus orçamentos foi e continua sendo uma prática comum a todos eles.
Sejamos honestos: não foram as tais pedaladas fiscais que motivaram o referido impeachment, e sim, a contínua e crescente perda de apoio político da então presidente Dilma Rousseff junto aos nossos congressistas e também sua crescente impopularidade. Foram estas perdas que motivaram o seu afastamento do poder.
Vivêssemos sob a égide do regime parlamentarista, em seu segundo mandato tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o nosso país não teriam vivido seus longos e traumáticos 16 meses, enfim, ela teria sido afastada já nos seus primeiros meses, e sem traumas.
Diferentemente do regime presidencialista, no regime parlamentarista, seus governantes não detém mandatos. Portanto, poderão ser afastados do poder, sem maiores delongas, bastando tão somente que lhes seja aplicado o chamado voto de desconfiança. Simples assim e naturalmente. Como se diz na gíria: numa boa.
Enquanto isto, no regime presidencialista, a exemplo do que aconteceu com o então presidente Fernando Collor, e mais recentemente com a então presidente Dilma Rousseff, se o presidente Michel Temer insistir em se manter no poder, sem mais dispor das condições minimamente indispensáveis para tanto, o nosso país continuará mergulhado, e cada vez mais se aprofundando, nas mais graves crises de nossa história, até porque, mesmo que o presidente Michel Temer seja submetido a um processo de impeachment, nossas crises continuarão se agravando.
Fernando Collor, Dilma Rousseff e, presentemente, Michel Temer viveram no mesmo inferno, e se mantida a nossa atual estrutura partidária, quem se eleger igualmente irá viver, afinal de contas, somente a base de conchavos, ou mais precisamente, da corrupção, e na sua forma mais degradante, ou seja, comprando apoio congressual, os nossos presidentes conseguirão compor as maiorias parlamentares que necessitam.
Nossa ingovernabilidade é efeito de uma causa já perfeitamente identificada - presidencialismo de coalizão - e pior ainda, derivada de estrutura partidária, ao mesmo tempo, anárquica e corrupta.