Não são as leis que determinam que os derrotados nas disputas eleitorais as reconheçam, publicamente.
Nas democracias que se prezam não são as leis que recomenda tão grandiloqüente gesto, e sim, o nível de educação política de quem participa de qualquer disputa eleitoral. Este gesto também é esperado pelo conjunto dos eleitores, exceto por àqueles que não estão preparados para viver em sociedade.
Prevendo a sua derrota o então candidato a reeleição, Jair Bolsonaro, fez de tudo para responsabilizar as urnas eletrônicas pela sua previsível e anunciada derrota. Nada mais paradoxal, afinal de contas, eleito várias vezes deputado federal, e nas eleições de 2018 tendo se tornado presidente da nossa República através do referido sistema, e mais ainda, tendo assistido a eleição de dois dos seus filhos, um a deputado federal e outro a senador, um terceiro deles já se encontrava eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, e para não variar, via urnas eletrônicas.
Outro paradoxo: a despeito de suas recorrentes acusações contra as urnas eletrônicas, jamais o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma única prova que as mesmas poderiam ou já houvesse sido fraudadas, desde que foram instaladas no nosso país, no já bastante longínquo ano de 1996. Neste particular ressaltemos: o ônus da prova cabe ao acusador.
Ao não reconhecer a sua própria derrota, nos dois meses que lhes restava no poder, novembro e dezembro de 2022, o ainda presidente Jair Bolsonaro em muito contribuiu para acirrar os ânimos dos nossos eleitores, este por sua vez, já se encontrando bastante polarizado entre o anti-bolsonarismo e o anti-lulismo.
Jamais poderemos esquecer que no mínimo 25% dos eleitores que votaram no candidato Lula assim procederam na tentativa de derrotar o candidato Bolsonaro, e reciprocamente, porquanto o mesmo percentual dos eleitores que votaram no candidato Bolsonaro pretendia ver a derrota do candidato Lula.
As aglomerações em frente aos quartéis do nosso glorioso exército, sobretudo, do seu mais simbólico, o QG de Brasília, algo nunca acontecido na nossa tumultuada história política, também se afigura como a mais antidemocrática entre as tantas ações antidemocráticas patrocinadas pelo já derrotado candidato Jair Bolsonaro.
Que o dia 8 de janeiro, muito apropriadamente denominado “dia da infâmia”, por todas as suas contra-indicações, deve e precisa ser lembrada como uma das mais trágicas lições que a história nos reservará, e motivo o bastante, para cuidarmos de nossa democracia.