Enquanto houver bambu, lá vai flecha
Rodrigo Janot
A expressão acima, se proferida por qualquer pessoa contra quem quer que seja já bastaria como uma ameaça, e se dirigida a um desafeto, mais ainda. Se proferida por alguém que ocupa uma elevada função pública, sobretudo, a de Procurador Geral da República, juntamente a função exercida pelo procurador Rodrigo Janot, torna-se ainda mais preocupante.
Além de afirmar, numa linguagem francamente compreensível, porém inadequada, que seu alvo preferencial era o presidente Michel Temer, Rodrigo Janot ainda acrescentou que até o dia 17 de setembro próximo, continuará com a caneta em suas mãos. Por certo, ele se reportava ao vasto arsenal de flechas à sua disposição e a sua inquestionável determinação de crivá-las no presidente Michel Temer, a exemplo do que fora feito com São Sebastião. Pior ainda: tais afirmações foram feitas num Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.
Ainda que as confissões de um criminoso confesso venham se revelar importantes no âmbito de uma investigação, antes de qualquer providência, há que serem cuidadosamente comprovadas, até porque, na busca de reduzir suas condenações ou até mesmo a sua impunidade, a exemplo do que aconteceu com o criminoso Wesley Batista, no mínimo, as suas confissões deveriam ser recebidas com reservas, ou seja, jamais deveriam se tornar públicas. A própria legislação que instituiu a delação assim determina.
Nada contra a utilização do referido instrumento, desde que, as confissões dos criminosos investigados justifiquem os prêmios que lhes sejam concedidos, afinal de contas, sendo caluniosa, uma delação poderá resultar na incriminação de pessoas inocentes e em benefício apenas do próprio criminoso. Até prova em contrário, foi o que aconteceu com o bandido Wesley Batista e sua corja.
Por sua inegável importância o instituto da delação premiada precisa ser preservado, mas nunca no interesse dos delatores, até porque, em isto acontecendo, os criminosos cuidarão de transformá-la em salvo-conduto. Esta moda não pode e nem deve pegar.
Detalhe a ser considerado: Wesley Batista não era apenas integrante de uma organização criminosa, era sim, o chefão de muitas organizações criminosas, condição que o impediria de merecer os prêmios que lhes foram conferidos. E o mais grave: são confissões continuam sendo contestadas.
Por fim: se a prova testemunhal continua sendo a mais prostituta das provas, todo cuidado é pouco quando um criminoso, em busca de sua liberdade, se candidata a fazer uma delação premiada.