. Se a culpa é minha, eu coloco em quem quiser.
. Homer Simpson
Quando Cícero, o maior filósofo, político e orador de todos os tempos, e em defesa da ordem republicana, partiu para enfrentar Lúcio Sérgio Catilina, este por sua vez, o líder de uma conspiração que pretendia golpear a República Romana, bastou apenas quatro discursos, as históricas catilinárias, para Catilina fugir de Roma. Isto, só foi possível graças a inquestionável força moral e o talento retórico do próprio Cícero. Pena que tais atributos, presentemente, no nosso mundo político, estejam bastante escassos.
Numa de suas catilinárias, proferida em pleno senado romano, assim Cícero se pronunciou: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia? Nem a guarda do palatino, nem a ronda noturna, nem o temor do povo, nem a influência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do senado, nem a expressão do voto das pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te? Não te dás contas que teus planos foram descobertos? Não vês que a tua conspiração a tem já dominada todo estes que a conhece? Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisões tomaste? E concluiu com a seguinte exclamação: ó tempos, ó costumes!
No nosso país, tanto no passado, quanto no presente, sempre que nos deparamos com uma crise, ao invés de se identificar as causas e passarmos a combatê-las, condição indispensável para se chegar as melhores soluções, invariavelmente, segue-se um troca-troca de acusações e ninguém assume suas próprias culpas. Chega de ouvirmos, sobretudo, dos agentes do nosso próprio Estado, as mais esfarrapadas justificativas, entre elas, a tentativa de transferir para os outros as culpas e irresponsabilidades que são suas. A expressão a seguir, da lavra de Homer Simpson “se a culpa é minha eu coloco em quem quiser”, nunca se prestou e nem nunca se prestará para que cheguemos as soluções que sejam do interesse públiuco..
Na recente chacina ocorrida em nosso país, na cidade de Manaus, 56 presos foram brutalmente assassinados quando se encontravam sob a custódia do nosso próprio Estado. Partindo-se da premissa que as causas que as determinaram foram as mesmas que determinaram as chacinas anteriores, seus resultados não poderiam ser diferentes, a não ser, com mais requintes de perversidade. À propósito, entre a chacina do Carandiru, a de Manaus e a de Boa Vista, estas últimas ocorridas recentemente, no intervalo de uma semana, as semelhanças abundam.
A chacina de Manaus não foi um pavoroso acidente, como quis dar a entender o presidente Michel Temer, tampouco se justifica porque os mortos não eram santos, como aduziu o governador do Estado Amazonas, José Melo, e menos ainda, que a culpa seja atribuída a uma empresa privada que prestava serviços ao sistema carcerário daquele Estado.
Por fim: entre os inúmeros desafios que o presidente Michel Temer terá pela frente, em grau de prioridade, nenhum deles está a exigir mais urgência que o resgate da nossa segurança pública.