O que não é do interesse público, por incrível que pareça, costuma atrair a atenção do próprio público.
Certa vez, do então deputado federal Amaral Neto, líder do meu partido, quando da minha passagem pela Câmara dos Deputados ouvi o que se segue: ele havia integrado a chamada “banda de música da UDN, comandada e orquestrada por Carlos Lacerda, decerto, o maior e mais perigoso oposicionista de toda a nossa história política. Segundo ele, numa das reuniões da tal banca de música, em razão do elevado prestígio e popularidade do então presidente JK, ao qual fazia oposição, Carlos Lacerda os convocara para intensificar a oposição e criar dificuldades ao seu governo, do contrário, dizia Carlos Lacerda, a própria UDN se enfraqueceria.
Conversa vai conversa vem, ao final de uma de suas reuniões, Carlos Lacerda determinou que o deputado Federal Amaral Neto apresentasse um projeto de lei propondo a duplicação do valor do salário. Antes de apresentá-lo, o próprio Amaral Neto pergunta-lhes: meu líder, se um projeto dessa natureza for aprovado não vai quebrar o Brasil? Resposta de Carlos Lacerda: quebraria sim, mas o patriotismo do PSD não vai deixar que isto aconteça e não o aprovará.
O exemplo acima bem que se presta para demonstrar, a despeito do interesse público, como governistas e oposicionistas se comportam no complicadíssimo jogo do poder, particularmente, no nosso. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, por exemplo, não se deu em razão das tais pedaladas fiscais, afinal de contas, dar pedaladas nos nossos orçamentos públicos sempre foi tratado como um pecadilho e praticado por todos os nossos governantes. Foi por haver perdido a sua base de sustentação político, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado que o seu impeachment ocorreu.
Particularmente, tanto apoio como torço para que o governo do presidente Michel Temer faça as necessárias e indispensáveis reformas constitucionais, sobretudo àquelas que objetivem tirar o nosso país das crises. Portanto, sou a favor da aprovação da PEC-241, da reforma da previdência, da reforma trabalhista e, sobretudo, da reforma política.
Mas para tanto, que não venha tirar da sua minguada oposição, o pouco que ainda lhes resta, ou seja, a prerrogativa de fazer oposição. São sim, dos 367 deputados federais e dos 60 senadores que alçaram o presidente Michel Temer a responsabilidade para aprovar os seus projetos.
Daí a pergunta que não pode calar: com tantas brigas no interior de sua própria base parlamentar, ou mais precisamente, com tantos pré-candidatos pretendo sucedê-lo, será que o presidente Michel Temer conseguirá aprovar projetos que são do interesse público, mas que contraria grande parte da nossa população?
Repor o nosso país nos trilhos é uma tarefa que só poderá ser vencida pelos tantos quantos não estiverem dando prioridade às próximas eleições, e sim, as próximas gerações. Lamentavelmente, não é isto que estamos percebendo nos congressistas que compõe a base congressual do presidente Michel Temer.