Triste é o país em que as suas instituições e a sua imprensa priorizam um único tema – a corrupção.
A pauta praticamente única das nossas instituições e da nossa imprensa, sobretudo, da nossa chamada grande imprensa, nos últimos três anos, tem sido o combate à corrupção. À propósito, os principais espaços dos nossos principais veículos de comunicação estão sendo ocupados de forma predominantemente monotemática. Não há espaço para tratar de nenhum outro assunto, independente de sua oportunidade, necessidade e importância.
Que o combate a corrupção é meritório e oportuno, ninguém dúvida, entretanto, o que precisa e deve ser questionado são o desapreço que tem sido dado aos nossos demais problemas, alguns deles tão ou mais importantes que o combate a corrupção.
Alguém dúvida que o principal problema do nosso país vem ser o afrontoso e crescente número de desempregados, hoje na casa dos 14.000.000? Certamente, não. Entretanto, para cada minuto que as nossas instituições e a nossa imprensa têm dispensado ao nosso angustiante desemprego, horas e mais horas, dias e mais dias, meses e mais meses, ou seja, nos últimos três anos, são inteiramente dedicados à corrupção.
No Brasil são assassinados, anualmente, 60.000.000 pessoas. Nem na guerra da Síria, presentemente, a mais sangrenta do planeta, se tem notícia de tamanha carnificina humana. A par disto, a matança de brasileiros não tem sido objeto de maiores preocupações, nem das nossas instituições, menos ainda, da nossa imprensa, até porque, bem mais interessante continua sendo as declarações já prestadas ou a serem prestadas pelos prováveis futuros delatores. E o mais preocupante: quanto mais espalhafatosas forem as suas confissões, mais atenção as nossas instituições e a nossa imprensa lhes conferem. Vide as repercussões da delação do mega-criminoso Wesley Batista.
A nossa educação pública, esta sim, a maior tragédia e, portanto, o nosso maior escândalo, justamente por sê-la uma das piores do mundo, nunca despertou o interesse das nossas instituições, tampouco da nossa imprensa, até porque, as delações já prestadas por Marcelo Odebrecht e Joesley Batista, as mais explosivas, e as especulações sobre as futuras delações, entre elas, a de Antônio Palocci, Eduardo Cunha e Dilson Furano, entre outros, continuam ocupando os principais espaços da nossa imprensa e dificultando o funcionamento das nossas instituições. Enquanto isto, não tem sobrado tempo para tratar do nosso desemprego, da nossa segurança e da nossa precária educação pública.
Volto a repetir: o combate a corrupção é oportuno, necessário e indispensável, entretanto, se todas as preocupações das nossas instituições e da nossa imprensa se mantiverem voltadas, única e exclusivamente, para o combate a corrupção, as nossas crises continuarão se agravando.